O que aconteceu no Congresso de Milão em 1880 e por que você precisa saber disso?

Você já ouviu falar sobre um Congresso que ocorreu em Milão em 1880? Sabe dizer o que ele tem a ver com a vida dos surdos hoje em dia? Neste artigo você encontrará as respostas.

Era o ano de 1880 na cidade de Milão, Itália. Os dias eram 6 a 11 de Setembro. Mais de 160 educadores e especialistas se reuniram em um congresso para falar sobre a educação dos surdos. Quantos surdos havia no local? Pesquisadores acreditam que eram apenas dois! A grande maioria era ouvinte. Dentre esses, praticamente todos defendiam a oralização das pessoas surdas. A língua de sinais deveria ser proibida. E foi isso que aconteceu! Muito se acreditava na superioridade da língua falada. Nada de inclusão! Sinalizar era encarado como regresso.

Quem fez parte desse congresso? Pessoas do mundo todo. Itália, França, Inglaterra, América, Suécia, Bélgica e Alemanha. No entanto, o Congresso foi organizado por um grupo de pessoas contrárias ao uso das línguas de sinais. Era a organização Pereira Society, que foi fundada na França por Jacob Rodrigues Pereira e era uma forte apoiadora do oralismo. Além disso, a escolha dos participantes do Congresso foi bem cuidadosa para garantir que a maioria das pessoas ali presentes fossem a favor do oralismo e reagissem negativamente aos discursos a favor das línguas gestuais.

Após seis dias de discussões, apresentações e votações, foi-se decidido o banimento dos sinais e gestos. Práticas bimodais também eram proibidas. A partir de então, o oralismo puro, foi apontado como a melhor abordagem para a educação de pessoas surdas.

Imagine o que aconteceu desde então: Professores surdos foram afastados. O uso de sinais em sala de aula ou no ambiente escolar era expressamente proibido. Muitos surdos foram castigados. Se cria que eles eram preguiçosos e que a comunicação através da língua oral seria prejudicada e atrasada caso sinalizassem. Por isso alguns deles foram até mesmo como que amordaçados. Mas não suas bocas, suas mãos!

Muitos surdos resistiam, claro que clandestinamente. Longe do olhar alheio, às escondidas, entre eles, usavam as mãos para se comunicar.

Veja essa pintura de Nancy Rourke. Ela é chamada de “Milão 1880 em cima da mesa”.

“Essa pintura é sobre o Congresso Internacional de Educação de Surdos (ICED, sigla em inglês) em Milão, Itália, 1880, quando a língua de sinais foi proibida e o oralismo se tornou a lei nas escolas para surdos.

Essas mãos estão cortadas e colocadas como exibição em cima de uma mesa. As mãos representam seis americanos que compareceram ao congresso de Milão em 1880. São eles: James Danison, Edward Miner Gallaudet, Thomas Gallaudet, Jr., Isaac Lewis Peet, e Charles Stoddard. As mãos simbolizam “N” para Não à Eugenia, “A S L” para Língua de Sinais Americana, “Incompatível” e “Expressar”. Essas são expressões em língua de sinais [americana] para mostrar os sentimentos dos seis americanos quando o oralismo se tornou lei.”(A tradução é nossa) – site oficial de Nancy Rourke, https://www.nancyrourke.com/milan1880onthetable.htm

Embora hoje as resoluções e proibições vindas do Congresso de Milão em 1880 já não estão mais em vigor e temos leis ao redor do mundo que confirmam a língua de sinais como meio importante na comunicação e educação dos surdos, ainda sentimos os efeitos daquele período sombrio do passado. Imagine se naquela ocasião, a decisão fosse o contrário. Como a vida dos surdos seria diferente hoje – mais acesso à educação e à informação, mais compreensão da sociedade e mais respeito, que é o que todos nós desejamos.

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